E com chuva!...
Daqui
Ah, o meu Urucuia, as
águas dele são claras certas. E ainda por ele entramos, subindo légua e meia,
por isso pagamos uma gratificação. Rios bonitos são os que correm para o norte,
e os que vêm do poente – em caminho para se encontrar com o sol. E descemos num
pojo, num ponto sem praia, onde essas altas árvores – a caraíba-de-flor-rôxa,
tão urucuiana. E o folha-larga, o aderno-preto, o pau-de-sangue; o pau-paraíba,
sombroso. O Urucúia, suas abas. E vi
meus Gerais! Aquilo nem era mais mata, era até florestas! Montamos direto, no
Olho-d’Água-das-Outras, andamos, e demos com a primeira vereda – dividindo as
chapadas – : o fla-flo de vento agarrado nos buritis, franzido no gradeal de duas folhas altas; e sassafrazal – como o
da alfazema, um cheiro que refresca; e aguadas que molham sempre. Vento que vem
de toda parte. Dando no meu corpo, aquele ar me falou em gritos de liberdade.
Mas liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro
do ferro de grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do
encoberto, e que ninguém, não ensina: o beco para a liberdade se fazer. Sou um
homem ignorante. Mas, me diga o senhor: a vida não é uma cousa terrível?
Lenga-lenga. Fomos, fomos...(ROSA, 2006, p. 306).
João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas
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