quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Boa tarde!

E com chuva!...
Daqui

Ah, o meu Urucuia, as águas dele são claras certas. E ainda por ele entramos, subindo légua e meia, por isso pagamos uma gratificação. Rios bonitos são os que correm para o norte, e os que vêm do poente – em caminho para se encontrar com o sol. E descemos num pojo, num ponto sem praia, onde essas altas árvores – a caraíba-de-flor-rôxa, tão urucuiana. E o folha-larga, o aderno-preto, o pau-de-sangue; o pau-paraíba, sombroso. O Urucúia,  suas abas. E vi meus Gerais! Aquilo nem era mais mata, era até florestas! Montamos direto, no Olho-d’Água-das-Outras, andamos, e demos com a primeira vereda – dividindo as chapadas – : o fla-flo de vento agarrado nos buritis, franzido no gradeal  de duas folhas altas; e sassafrazal – como o da alfazema, um cheiro que refresca; e aguadas que molham sempre. Vento que vem de toda parte. Dando no meu corpo, aquele ar me falou em gritos de liberdade. Mas liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto, e que ninguém, não ensina: o beco para a liberdade se fazer. Sou um homem ignorante. Mas, me diga o senhor: a vida não é uma cousa terrível? Lenga-lenga. Fomos, fomos...(ROSA, 2006, p. 306).


João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas

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