domingo, 18 de março de 2012

Memórias


Minha Família, como não amar?!


- Alô, Liana?
- Oi, tá boa?
- Ah , eu não estou boa não. Quebrei um pau no ouvido.
- O quê? Como assim, você está surda?
- Não, quebrei um palito de fósforo no ouvido, estava coçando.
- Santíssimo Sacramento! E agora?
- Não sei não.
- Que foi, mãe? (Uma segunda voz no telefone).
- Sua tia quebrou um palito no ouvido.
- Vai ter que ir ao PA.
- Elaine falou que tem que ir ao PA.
- Fala com ela, pra ir se arrumando que eu vou passar para levá-la.(Uma terceira voz no telefone.)
- Não precisa, vou a pé.
- A gente se encontra lá então.
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- Será que é grave?
- Não é não, mãe
- E se o palito for para o cérebro?
- Que isso, mãe , não tem como!
-Como você sabe?
- Mãe, eu fiz Biologia, lembra ? Não tem como.
- A sua Biologia não sabe de nada. O palito vai andando lá dentro.
- Érica, não responde sua mãe!
- Viiiiiu, pai, viu. Vamos depressa então.
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No colégio:
- Alberto, sua tia ligou. É pra vocês irem embora. Sua mãe está no PA. Parece que é alguma coisa no cérebro.
- Ai meu Deus, vou avisar a Luhara!
- Luhara, a mãe está no PA. Deu alguma coisa no cérebro.
Um colega de sala está passando.
- Ô meu, aqui está a parte do meu trabalho. Não vai dar pra eu falar, a minha mãe está no PA, com alguma coisa no cérebro.
- Pô, cara, sinto muito. É grave?
- Tia Liana ligou, é pra gente ir ficar preparado porque se a mãe tiver que ir pra BH nós vamos pra casa dela.
- BH, por quê?
- Se tiver que operar...
- Ixe.
Outro colega:
- Entra aí, meu, vou levá-los de carro.
- Pô, cara, valeu.
- O que será que aconteceu com a mãe? Será que o véio apareceu e deu um pau nela?
-Cê doido?! Deve ser derrame, ou aneurisma.
-Ixe.
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O colega chega na sala de aula:
- Ô turma, a mãe do Alberto está mal, no PA, está indo pra BH. Parece que está em coma.
- Nossa, vamos rezar um Pai Nosso! Coitado do Alberto e da Luhara!
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No PA:
- Todo mundo já chegou, menos a Lécia.
- Tá chegando, cadê o João?
- Vai saber...
- Como tá?
- bem.
- Coitada, tão nervosa que não está dando fé de nada. Devia ter protegido o ouvido.
- De que, mãe?
- Da friagem.
- A mãe está pior que a tia Lécia, vai ficar doida qualquer hora.
O funcionário, do PA, vendo aquele tanto de gente:
- O que foi, algum acidente, é grave?
- Muito grave, minha irmã quebrou um palito deeeeesse tamanho no ouvido.
- Mas porque ela colocou um palito deeeeesse tamanho no ouvido?
- Prá coçar, o palito quebrou lá dentro.
- Nossa, que gente mais doida!
Depois de muito tempo e de muitas reclamações por causa da demora, chamaram a moribunda.
- Só pode um acompanhante, por favor.
- Assim não é possível, eu tenho direito, sou a irmã.
- Mãe, não convém, a sua pressão pode subir.
- Vai seu pai então.
- Acho que o papai não aguenta, nem eu.
- Os meninos não tem idade pra isso.
- Vai a Érica, ela  entende, é formada em Biologia!
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- E então doutora?
- Não tem nada aqui dentro.
- Mas não é possível, tem que ter!
- A médica lança um olhar furibundo e diz:
- Não tem nada aqui, a paciente está ótima e vocês podem ir embora.
- Mas não vai receitar nada?
- Se ela sentir qualquer coisa durante a noite, amanhã ela pode voltar.
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- Por isso que este país não vai prá frente, tinha que encaminhar pra BH, fazer um exame, talvez precise de cirurgia. Depois a Lécia morre com isso no cérebro, quero ver de quem vai ser a culpa.
- Calma, mãe.
E vão todos embora, frustradíssimos.
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- Qualquer coisa, vocês podem ligar,
- Não é melhor ela dormir lá em casa?
- Não precisa,  muito obrigada! Vou dormir em casa mesmo, estou bem.
- Amanhã você não vai trabalhar. Fica em casa de repouso.

          No dia seguinte, ela aproveita o feriado fora de hora e dorme até mais tarde. Quando levanta vê que a filha já fez quase tudo antes de ir trabalhar. Com cuidado, pra não balançar demais o ouvido, começa a varrer a cozinha. Aí então, lá no cantinho ela vê um pedaço de palito de fósforo quebrado assim meio que na diagonal. Igual ao pedaço que ficou na sua mão quando quebrou ao coçar o ouvido. Ela pega a bolsa e vai para o trabalho.
- Ué, você não estava passando mal do ouvido?!
- Já melhorei, era labirintite.
Achou melhor nem mencionar a palavra palito, senão vai ser motivo de chacota em todas as festinhas familiares e no trabalho.

        Qual desculpa  deu pra família?
-Ah, o palito deve ter dissolvido lá dentro. Ponto de cirurgia 
não dissolve?... Então,  com tanta preocupação
 é bem possível.
Este texto eu escrevi, para fazer uma pequena
 homenagem à minha família que está 
sempre presente em todos os momentos 
de minha vida. O caso é verídico; eu dei 
apenas uma floreada para criar o sentido
 de humor. 
Espero que gostem!

  Lécia Freitas

4 comentários:

  1. Oi Tia Lécia!!!
    Adoreeeeeei o texto!!! chorei de rir relembrando daquele dia. Continue escrevendo sobre outros dias ou fatos tão engraçados quanto este.
    Bj e fica com Deus, abraços nos meninos!
    Érika.
    PS: O BLOG TA UMA GRAÇA!

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    Respostas
    1. Oi, Érika, Deus te abençõe! Escrevi errado o seu nome, desculpe-me!
      Fala a verdade, acontece cada coisa com a gente...As pessoas nem acreditam...
      Vou tentar me lembrar de outros dias. Você pode ajudar.
      Tudo de bom, fica com Deus! Lécia

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  2. KKKKKKKKKKKKK, a cara da minha mãe isso de coçar o ouvido com palito de fósforo, na época cotonete era luxo. Ela também coçava as costas na quina da porta. Família é a melhor coisa do mundo, mesmo quando aperreia. Teu texto é muito engraçado, continue escrevendo. Bjs
    Joana

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  3. Oi, Joana! Muito obrigada pelo comentário!
    Eu também coço as costas na quina da porta,kkkkkkkkk! E, realmente, família é tudo de bom. É o nosso eixo, você concorda?
    Os aperreios fazem parte.
    Feliz semana prá você e os seus!
    Lécia

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