terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Preferências


...E o Sabiá cantava!



 Minha terra tem injustiça
Preconceitos e rancores
Pobre, preto e diferente
Todos sofrem suas dores.

Nossas ruas têm mais drogas
Nossas praias, arrastão
Nas cidades, violência
No Planalto, corrupção.

Em andar sozinho, à noite,
Mais perigos encontro eu lá.
Roubo, estrupo e bala perdida
Também mata Sabiá.

Nosso grão que enche a tulha,
Também enche o vagão,
Mas não pode matar a fome
Está no bolso do patrão.

Minha terra tem madeireiras
Que tais não encontro eu cá
E a bala não perdida
Já matou o Sabiá.

Mas não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte a "sapucar"
Sem que eu veja o Canarinho
A Copa do Mundo ganhar
E junto com meu País
Ver o futuro chegar.

Sem que eu desfrute os primores
A que uma Carta faz jus
A luz, os cheiros, as cores
Do Eldorado Santa Cruz
Mas não permita Deus que eu morra
Alquebrado, na fila do SUS.

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Mais um trabalho da faculdade! É claro que eu amo o meu País! E sei que tem muita coisa boa, principalmente o nosso Povo, único no mundo. Mas tive que seguir os critérios exigidos...

                                                             Lécia Freitas

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Preferências

Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
com janelas de aurora e árvores no quintal.
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores.
.

.que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
Manoel de Barros



Quadrinhos de decoupagem


Esses quadrinhos eu fiz com porta retratos do 1,99. Só precisei lixar , pintar  e envernizar.
Eu adoro essas galinhas!


Flores










  Essas são as últimas imagens de uma orquídea que eu ganhei no Dia das Mães. Ela foi destroçada por uma tempestade de granizo. Não sei como saiu outro broto que floresceu. Mas agora não tem mais jeito.Que pena!

Decoupagem em sabonetes




sábado, 18 de fevereiro de 2012

A menina e sua mãe


          Naquela manhã, a mãe parecia mais preocupada. A menina aprendera a identificar os sinais. A mãe, calada, passava a mão, seguidamente, na nuca e depois na testa. Como se quisesse tirar dali alguma ideia, uma solução... Além disso, a menina sabia que não tinham nada para acabar com aquela fome que lhe roía por dentro, já àquela hora da manhã. Como ela gostaria de poder ajudar, resolver todos os problemas da mãe... Se pudesse tirar das páginas da revista todas aquelas comidas gostosas, para ela e os irmãos... Talvez sua mãe sorrisse... Ficava tão bonita quando sorria!...
           Ela ouve a voz do irmão mais velho:
           - Mãe, com fome...
            A mãe não responde, não tem o que responder.  A menina sente raiva do irmão. Será que ele não percebe o desespero, a angústia da mãe?  Ela permanece ali no canto brincando com o irmãozinho, enquanto observa a mãe.
            De repente, a mãe se aproxima, pega o filho menor enganchando-o no quadril e diz aos outros dois:
            - Vocês peguem os dois paus do varal e venham atrás de mim. A mãe sai, rapidamente, com os dois filhos atrás tentando acompanhar seus passos. Depois de algum tempo eles param e a mãe entrega o menor à filha, dizendo-lhe:
           - Você fique aqui tomando conta do seu irmão.
           - O  que a senhora vai fazer?
           - Ali tem um pé de abóbora. Vou ver se acho alguma. Menino, pegue o pau para me ajudar, diz ela dirigindo-se ao filho mais velho.
           - Eu não quero ajudar, tô com medo de cobra. Olha o tamanho do capim...
           - Se não ajudar não come. A menina ouve aquilo e pergunta:
           - Mãe, eu ajudando, posso comer a parte dele?
           - Olha  mãe, ela me insultando...diz o filho mais velho, quase chorando.
           -Todo mundo vai comer. Mas tem que ajudar, diz a mãe, apaziguadora, enquanto vai cutucando o capim meloso para afugentar alguma cobra ou outro animal que pudesse molestar a ela ou ao filho.
           - Achei, grita a mãe, mostrando aos filhos uma abóbora verdinha!
            A filha olha, primeiro, o rosto da mãe. A mãe está sorrindo! Vê seu rosto iluminar-se de felicidade e, então, a menina sente vontade de abraçar aquela abóbora! Junto a esse sentimento vem a alegria por saber que logo vão comer coisa. Aproxima-se da mãe e diz:
            - Ô mãe, essa abóbora com arroz vai ficar uma delícia, não vai, mãe?
            - A gente come a abóbora hoje. Outro dia, a gente come o arroz, responde a mãe, enquanto voltam apressadamente. No caminho encontram o avô que está indo para o sítio onde trabalha.
            - Onde ocês tava, pergunta o avô?
            - Nós fomos procurar uma abóbora, no pé que eu tinha visto, outro dia. Olha ela aqui, responde a mãe, mostrando a abóbora.
            - Ô minha filha, isso não é abóbora, é uma cabaça, diz o avô.
            - Não fala isso não, pai, nós não temos nada para comer. Oh, meu Deus, desespera-se a mãe!
Nesse momento , a menina sente tudo de uma vez, como se estivesse em um redemoinho. E agora, como vão fazer? Percebe a decepção, o sofrimento da mãe. Queria inverter os papeis, pegá-la no colo, acalmá-la... Como num sonho ouve a voz do avô...
           - Espia aqui, filha. levando o farelo pros pintinhos do patrão. Você pega um pouco, coa e apura o fubá. Daí faz um fubá suado. Vai dar para matar a fome.
A menina ouve aquilo num misto de alegria e tristeza. No seu coração ela jura pra si mesma:
          - Um dia eu vou crescer, vou trabalhar, e então nunca mais vamos sentir fome.

 Pará de Minas, 26 de maio de 2010

Lécia Freitas



           Esse texto, eu escrevi para um trabalho na faculdade, e relata uma passagem da minha vida.  Foi uma época muito difícil, graças a Deus passou. Hoje, nos esforçamos para sermos felizes, apesar das marcas, profundas, principalmente na menina. Quem sabe algum dia consigamos esquecer.

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