O ser humano tem uma capacidade imensa de suportar o sofrimento. Pressupondo que a morte seja o maior de todos, quando morre um idoso, naturalmente, as pessoas ligadas a ele ficam sentidas, mas com o tempo tudo passa. Se a pessoa que se vai é mais jovem , principalmente se tem filhos, o choque é mais forte. Para os filhos então, fica uma lacuna difícil de preencher. Os filhos pequenos perdem muito, e é necessário um apoio por parte dos parentes para que suportem a dor. Novamente o tempo vem amenizar o sofrimento. A vida continua e aos poucos todos se ajeitam. O que fica, sempre, é a saudade, e às vezes ensinamentos, exemplos de vida, etc. Frequentemente, nos deparamos com situações em que jovens, crianças, têm suas vidas interrompidas de formas naturais ou trágicas. E nos assombramos. Porque é contra a lógica. Pessoas deveriam viver a vida toda. Isso para uma mãe deve ser terrível. Toda mãe espera que o filho cresça e seja feliz. Aliás, a maior parte da felicidade dos pais vem da felicidade dos filhos. Mas a morte é inevitável, e isso ajuda na hora do desespero. Segundo algumas crenças, talvez até voltem a se encontrar algum dia. Sempre há um lenitivo e o tempo como um bálsamo... Não acredito, porém, ser esse o maior sofrimento que se pode infligir a uma mãe. Aquela que perde um filho para as drogas, para o mundo, sofre muito mais. A cama perfeita faz o silêncio do quarto gritar, gritar, gritar... Nessa hora toda mãe gostaria de ver a bagunça das roupas espalhadas, as meias sujas, o som irritante daquelas músicas horrorosas que os filhos gostam de ouvir. Essa mãe daria a vida para que o tempo voltasse. Segundo Kalil Gibran, em uma passagem belíssima de sua obra, nós, as mães, somos o arco que se retesa para lançarmos a flecha, pelas mãos do Arqueiro rumo ao infinito. Essa associação da missão de uma mãe com os desígnios de Deus, nos deixa ainda com mais responsabilidade quanto ao futuro de um filho. Porque os pais, pais verdadeiros, na concepção da palavra, direcionam, sempre, seus atos ações, atitudes, tudo, com o pensamento na formação do filho. O objetivo é que ele seja um Homem. A mãe, então, espera a perfeição do voo para a sua própria excelência. E se isso não acontece a dor é insuportável. É como se o peito fosse partir em estilhaços. Costuma-se ver mães sentadas em bancos nas sepulturas dos filhos. Como uma visita. A mãe sabe aonde o filho está. Mas se o filho vai embora, ela se afunda. Nem adianta esse cheiro gostoso de rosquinhas de nata assando que invade a casa. As preferidas por ele mas, ele não vai chegar. Quando um filho morre, a mãe perde o físico, o concreto. Mas, ele não foi porque quis. É natural, da própria vida. Resta o consolo de que houve um amor até o fim. Quando o filho vai embora, não. Na verdade, toda mãe espera que o filho lhe faça companhia na velhice. Porque não existe amor unilateral, ninguém ama sozinho. Todo amor pede, clama, exige. Então, quando o filho vai embora há uma negação desse amor. Uma rejeição, absoluta. A mãe ama só. Essa constatação dói mais que a própria morte. Fica a pergunta: O que foi que eu fiz? Onde foi que eu errei? Não é verdade que as mães são perfeitas, mães também erram. Contudo, não existe perdão para elas. O que fica é essa dor, esse aperto no peito, esse vago entre os braços que querem abraçar. Fica um sentimento, imensurável, desperdiçado. Eu tenho os outros filhos. E eu os amo. Mas, um é cada um. E o amor também.
Lécia Conceição de Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário