OS
ANJOS DA VIDA DA GENTE
Quando o pai dos meus filhos
resolveu ir embora (e essa foi a melhor coisa que ele poderia ter feito), ele
chamou o dono de uma loja de móveis usados e vendeu tudo que era nosso. Tudo.
Sem fogão, sem camas, até para os meninos. É claro que chorei, é claro que me
desesperei. Mas foi só por um momento. Arregacei as mangas e comecei a luta. Um
passo de cada vez. Um dia de cada vez. Não havia expectativas. Não havia
esperanças.
Trabalhei dia e noite, noite e dia.
Não havia tempo para ser mãe. Perdi muito da infância e adolescência dos
meninos. Na verdade eles também não viveram essas fases. Não teve como. Não
eram permitidos sonhos. Toda a energia era gasta em sobreviver.
Devo dizer que aos poucos foram aparecendo os
anjos. Todos aqueles que me ajudaram. Não dá prá dizer quantos. Eu costumo
brincar que se ganhasse na megasena e fosse retribuir a todos não sobraria nada. Havia uma senhora,
Clarice, que ficava esperando os meus filhos no caminho da escola e lhes dava
merenda. Ela era empregada doméstica como eu porém, tinha uma situação
financeira melhor que a minha. Foi dessa maneira que eles conheceram iogurte,
biscoitos recheados, essas coisas que as crianças gostam. Não posso me esquecer
de Vera, que sempre me dava pão, leite... Minhas primas Marília e Lilia...
Tantas, tantas...
Meu cunhado deu-me duas camas onde dormíamos
os quatro. Era apertado e eu queria pelo menos mais uma cama. Era época de
Natal e havia uma promoção na cidade – Natal dos Sonhos – que bastava escrever
uma cartinha para o Papai Noel e ser sorteado para ganhar e realizar o seu
sonho. Eu mandei "nnnnnnn"
cartas na esperança de ganhar a cama. Não ganhei. Na época trabalhava de
doméstica na casa do presidente da Ascipam – Associação do Comércio de Pará de
Minas. No dia seguinte ao sorteio conversando com minha patroa sobre o sucesso
da promoção, fiz um comentário a respeito de minha decepção por não ter
conseguido ganhar. No domingo seguinte fui surpreendida com a chegada de meus
patrões em minha casa. Com a cama, o colchão e até os lençóis. Digam-me, não
são anjos?!
Lécia Conceição
de Freitas
E conmforme fui lendo teu texto não teve como não me emocionar. Mulher guerreira vc , que apesar das dificuldades , venceu.Criou os filhos e consegue ser grata aos anjos q apareceram em sua vida.
ResponderExcluirParabéns !!! Admiro isso !!!
Beijinhos
Ana
Obrigada, Ana! Foi difícil, graças a Deus passou. Não posso reclamar da vida, pois foram muitos que me ajudaram. Além disso sou bem feliz e tento mostrar aos meninos o quanto isso é importante. São jovens, adolescentes, é complicado o amadurecimento mas eu sei que vão conseguir! Bjs,Lécia
Excluir13 de junho de 2012 10:55