Hoje, Dia dos Pais, acho que vou me apropriar de todas as homenagens que estou vendo por aí. Esperei, sinceramente, ganhar pelo menos um abraço de parabéns. De qualquer pessoa. Mais ainda de meus filhos: Alberto, Luhara, João Vítor. Durante muito tempo da minha vida fui mais pai do que mãe. Era eu quem tomava as decisões, era eu quem tinha que prover o sustento, a segurança, tudo. Tanta coisa que nem me lembro, e o pior, não passou. Continuo sendo pai, embora não reconheçam, talvez porque eu não tenho a energia carinhosa que um pai deve ter. Esse meu papel ambíguo nunca foi reconhecido, muito menos valorizado. E eu não fui capaz de ser os dois: pai e mãe. Os meus filhos não me perdoam a abdicação, forçada, do meu papel de mãe. Eu tive que abdicar! Não havia tempo para ternura, delicadeza, etc.... O tempo era utilizado em como sobreviver. Para eles, no entanto, parece que não foi suficiente. E eu, eu estou sozinha. Essa solidão de agora é a pior que existe, A solidão do desamor, da indiferença.
Mas como eu poderia usar a linguagem das Mães? Eu não tive mãe por isso a desconheço. Nunca a usei, sempre fui estrangeira a ela, a linguagem da ternura e da afeição. E pago caro por isso. Pensei que para demonstrar o meu amor seria bastante deixar de viver a minha vida. Não há aqui nenhum tipo de cobrança ou sacrifício. Foi uma opção minha. Isso é apenas uma tomada de posição.
E não tem o que fazer, não há como voltar atrás e refazer. Não há como ter outros filhos, construir outra vida. Não há mais tempo, não para mim. Contudo, não os culpo. Como poderiam compreender um amor assim, no cotidiano, na crueza, no viés da vida? Seria preciso detalhar, entrever as atitudes, ler nas entrelinhas a história de um amor, que embora rude, é sem medidas, sem tamanho... Um amor que fica por aí no tempo, no espaço, porque ele existe e não tem como voltar para dentro de mim. Eu me tornei assim como uma tempestade que se forma e a chuva não cai. Como um rio que corre, mas não murmura. Como o vento que sopra, mas não canta. Como uma árvore que floresceu deu frutos, mas não dá mais nem sombra. Não tem seiva, não tem vida.
Lécia Freitas
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